TEIMOSIA DE BORBOLETA



 Tem ano que a chuva demora chegar no sertão e mesmo quando faz a visita rápida, como quem só veio molhar os pés e ir embora, o milagre acontece: o chão racha menos, o verde se estica e, de repente, surgem elas, as borboletas amarelas – do nada, como fofoca em cidade pequena.Elas aparecem em bando, sem cerimônia, voando torto, mas decididas, como quem já sabe que o mundo é difícil, mas o céu ainda tá lá. E o mais bonito é isso: vêm depois da chuva. Não durante, não antes. Elas esperam a lama baixar, o cheiro de terra subir, e aí sim... dançam no ar, como se dissessem: “Viu? Sobrevivemos de novo!”

 E eu fico pensando que a gente, no fundo, é meio borboleta amarela também. A vida manda seca, manda vendaval, manda “não” com gosto, daqueles que vêm em caixa alta e com três exclamações. Mas a gente resiste, recolhe os caquinhos da esperança, e um dia, do nada, sai voando sem nem perceber.

Voar no sertão não é luxo, é teimosia com fé. E essas borboletas, miudinhas e atrevidas, são lembretes alados de que mesmo depois da tempestade, ainda dá pra bater asa. Nem que seja só pra ver o mundo de cima e rir da cara do impossível.

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