Dia dos Avós e as Poções de mato com azeite
26 de julho, Dia dos Avós. Eu queria estar num comercial de margarina, café na varanda, risadas suaves, voz de neto dizendo "vovó, te amo", mas a minha realidade é vó Maria Clara e Vô Edmundo, do interior do Piauí, uns tipos de curandeiros bravos, que nunca ouviram falar em margarina — era só manteiga batida no pilão mesmo.
Minha avó não comemorava esse dia com flores ou presentes. O presente dela era um gole de mastruz com leite em jejum, e o dele garrafada de aroeira e angico, “pra limpar as impurezas do sangue”. Sangue, intestino, alma — tudo. Eles diziam que criança da cidade adoece porque não toma chá de boldo com casca de laranja e não sabe o valor de uma reza feita com um galho de arruda molhado na água benta do poço. Era só espirrar que já vinha com o galho: “Sai, coisa ruim!” — e três cruzes na testa.
Dor de barriga se curava com chá de erva-doce e barriga inchada, com um unguento de saião esquentado na colher. Qualquer problema mais grave, tipo desobediência, era falta de Deus — e aí era novena, terço e, claro, mais chá, numa dessas eu quase virei beata, mas isso eu conto depois.
Mesmo com todo esse terror botânico, o mais i. ncrível é que a gente sarava. E ria. E voltava pra rua fedendo a leite azedo com mato moído, mas inteiro. Hoje, nesse dia dos avós, eu só queria mais um gole daquele mastruz com leite. Mas só se fosse ela mesma pra dar. E me obrigar. Porque avós que são avós curam até saudade com chá.
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