Semeando o Mundo




  Plantar é um gesto antigo como a fome, sagrado como um abraço de mãe. Há quem veja na terra apenas barro, pó e formiga, mas quem já se ajoelhou com as mãos sujas de húmus sabe: o chão fala. E quando o homem insinua uma semente no ventre do solo, não está apenas plantando milho, feijão ou abóbora. Está, em silêncio, fertilizando o mundo.

É um rito. A escolha da lua certa, o cuidado com o sulco, a pausa para ouvir o vento, como quem escuta a prece dos antepassados. Cada grão lançado é um pedaço de fé. E depois, é esperar. Não com pressa, mas com o coração atento, como quem vigia o crescimento de um filho.A chuva, quando vem, não é só água: é milagre. Ela dança no telhado, penetra as raízes, acorda o que dormia. Os primeiros brotos rompem o chão como versos que não couberam mais no peito da terra. Há uma alegria muda em ver a plantação mudar de cor, em acompanhar o ritmo das folhas que se esticam, famintas de luz.

Trago a forte lembrança do meu avô Edmundo Basílio, lavrador, repentista nas palavras e no ato de compor para o chão, sabia a métrica da plantação, observa tudo, não como quem domina, mas como quem ama. Seu amor não se expressava em juras, mas em calos. Assim é o homem do campo, ele fala com o mato e sussurra para o roçado. E mesmo quando o sol arde impiedoso, ele segue firme, de chapéu na testa e esperança no olhar, pois sabe que o sol que queima também amadurece.

Em tempo da colheita, o campo se transforma em altar. A mão colhe o que a fé semeou. Cada fruto, cada espiga, cada rama é uma resposta da terra ao toque do homem. Plantar é um ofício de paciência e poesia. É dizer ao mundo, com gestos humildes: A VIDA INSISTE, verde, úmida e teimosa, como a primeira folha após a seca.

:..\o/🌵

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