Faustino, tu nascestes estrela e eu sou vagalume com sede de céu
Foi depois de muito mato, muita manga chupada no pé, palmito de tucum e muita carta nunca enviada que a menina do interior tropeçou num livro de gênero pomposo: Poesia. Abriu por acaso, esperando achar um horóscopo ou receita de doce de buriti, mas encontrou Mário Faustino, o tal Príncipe das Palavras. Achou que fosse nome de santo ou locutor de rádio AM, mas era poeta e dos bons. Achou também que fosse exagero de quem escreveu o prefácio, mas bastou um poema, leu e não entendeu nada. Releu e sentiu tudo, e atestou que aquele cabra sabia encantar até pedra com sílabas.
Os versos eram lapidados com tanto esmero que pareciam bordados de voz. Com mãos de ourives e alma de beija-flor, ágil na arte de prender pela delicadeza. Ela não discerniu o pensamento, mas sabia que estava emocionada e com inveja, que nem sei se é permitido chamar de " inveja boa". Desde então, passou a escrever em todo canto: no caderno da escola, no verso da conta de luz, paredes e na palma da mão. Queria também burilar palavras, mas sem esquecer sua raiz, lembrar-se que nasceu do barro, da fala arrastada e do orgulho de ser filha do chão rachado e da rede armada. Queria mostrar que poesia também brota onde o ônibus só passa duas vezes por dia.
Inspirada, escreveu um poema em homenagem a ele, mas colocou um toque seu e agora, toda vez que alguém diz que no Piauí só tem calor — mentira. Tem escritor que queima mais que o sol de Teresina. Se Mário Faustino fosse paulista, tava nas capas de tudo, mas como é piauiense, virou constelação cult, só os bons acham.
Li por aí, que "O brilho não se perde no escuro, só espera a hora certa de encantar" ou seja, tudo é "o homem e sua hora", um brilho Faustino, o clarão na alma da gente com a ponta da caneta. Eu espero a minha hora com café, cuscuz e paciência, ah e um bocado poesia.
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