ONDE AS ÁGUAS SE ABRAÇAM
No coração do Piauí, entre o calor da terra e o sussurro das árvores ribeirinhas, dois rios se encontram como velhos amigos que, por caminhos distintos, sempre souberam que um dia se abraçariam.
O Parnaíba vem largo, soberano, com sua alma de rio grande e paciente, arrastando memórias de outras margens, de outras cidades, de outras histórias. Ele carrega em suas águas a espessura do tempo, a força dos sertões, a sabedoria de quem já viu o Sol nascer em mil tons sobre suas correntezas. Já o Poty chega mais leve, apressado e jovial, como quem vem correndo para contar uma novidade. Vem cortando a cidade, refletindo prédios, barcos, gente — e a pressa dos dias modernos. Mas guarda também o espírito das matas e as canções dos bichos que sussurram quando a cidade adormece.
O encontro dos dois não é colisão. É gesto de reconhecimento. Um curva-se um pouco, o outro desacelera. É como se um oferecesse ao outro um copo d’água e dissesse: “Senta, me conta da tua jornada.” Lá, bem ali em Teresina, onde as águas se misturam, há um instante em que o tempo parece parar. O Parnaíba e o Poty dançam um balé silencioso. Quem olha de longe talvez veja só o cruzamento de cursos. Mas quem para, respira e escuta, percebe que ali há um segredo. O segredo das confluências. Daquilo que se junta sem se perder.Ali também se encontra a cidade. Teresina nasce dessa junção — não só geográfica, mas simbólica. Entre tradição e pressa, entre a lembrança e o desejo, entre o ontem do Parnaíba e o agora do Poty.
E assim seguem os dois rios, misturados, diferentes e unidos. Um encontro que acontece todos os dias, mas nunca é igual. Porque como tudo que é vivo, as águas também sentem. Também mudam. Também amam. E quem sabe ouvir, ainda hoje escuta o murmúrio desse encontro. Parece um sussurro antigo dizendo: “Mesmo vindo de longe, há sempre um lugar onde as águas se entendem.”
Se você leu até aqui, agora me responda , esse encontro é ou não é um prosa boa?
Comentários
Postar um comentário