Autora: Val Mello
Editora: Ventura Editora
Páginas: 127
Gênero: Poemas
Ano: 2020
SINOPSE: Com toda a intensidade poética Val Mello traz, como destaque, em Vermelhos InVersos, o seu tão admirado rubro, colorindo cada verso desenvolvido ao longo da obra. Tal marca une-se à expressão do vermelho, o que proporciona uma viagem pelo íntimo do sentir, uma vez que há em cada poema o encontro com a inquietude, a força, mas também com a delicadeza que se desnuda à medida que a escrita se estende. A autora também enfatiza a possibilidade de reflexão quanto à valorização da mulher ligada à humanidade. É possível sentir, dessa maneira, que a autora desbrava sua intensidade de maneira muito marcante, o que torna mais instigante a leitura em si.
É extremamente maravilhoso ler um livro de poesia e sentir-se tocada por cada verso. É exatamente o que acontece na obra Vermelhos InVersos, de Val Mello, do início ao fim. O livro é um convite para desbravar o mais íntimo do ser que a autora evidencia. São demonstradas as inquietudes da vida com um olhar crítico, marca também registrada em sua personalidade. Mas não para por aí, pois também há a bravura representada poeticamente diante das vicissitudes, e claro com um toque de delicadeza e sensibilidade que se manifesta nessa linda viagem que é a poesia.
O livro é divido em Eu, Elas, Eles, Elos, Lutas e Tempo, partes que compõem o todo que é a autora. São, portanto, conjuntos de poemas, acompanhados de ilustrações autorais que chamam a atenção por mostrarem-se expressivos com uma técnica diferente da convencional. Para cada parte observa-se a força e a representatividade muito presentes nas entrelinhas. De maneira bastante intensa é enaltecida a vaidade feminina, impondo a imagem de empoderamento e desprezando qualquer rótulo da sociedade conservadora, além de existir uma busca pela memória do passado e do presente nas situações do dia a dia.
O destaque dado à força feminina ganha forma também com a representação que a cor rubra tem para Val Mello. Apaixonada pelo vermelho, seja na cor da roupa, do cabelo ou no batom, seja na vida, a autora manifesta essa representatividade, ilustrando a magnitude da garra que a mulher possui. Ora visto por alguns como vulgar, provocante, o vermelho é também um simbolismo de força e autenticidade da mulher que sai da “caixinha”, da mulher que exige o devido respeito dos homens, que não se curva a uma sociedade patriarcal. É o que se observa no poema intitulado Batom representando aquilo que vai além da vaidade feminina:
Batom
É um misto de segredos
que transforma toda mulher
É expressão de beleza
e até desacato à fé
Mexe com sentidos mortos
Mexe com a repressão
Mexe com os comprometidos
Causa ciúmes na multidão
Escorrega entre os lábios
Nos faz despertar muitos dons
Nem quem usa sabe explicar
O poder de um batomÉ importante frisar que, ao apreciar a obra, é possível fazer um encontro com o que Val Mello estabelece: um vínculo com a angústia presente na contemporaneidade. Nesse sentido, há a possibilidade da reflexão em torno das injustiças sociais, por exemplo, como uma maneira de perceber que estamos inseridos em vários contextos de situações adversas, mas que promovem um despertar. Com isso, a obra tem grande relevância por apresentar as facetas da vida instigando o leitor a pensar, refletir e questionar situações existentes que necessitam de atenção. Assim, é possível observar no poema Pink como se dá essa reflexão.
Pink
Luz do dia nas janelas
O movimento é constante
E quando a manhã é chuvosa
há mais pessoas apressadas,
mais buzinas irritadas
Há vizinhos acordando
A cidade despertando
No rádio, uma oração:
Confortably Numb
A criança ainda dorme
no adulto despertado
É hora de labutar
Nesse universo, ainda encontra-se observações e questões relacionadas ao tempo e como ele é utilizado nas relações humanas. De maneira bem trabalhada a obra traz uma referência a uma das habilidades que a escritora tem, como por exemplo, a arte de dançar, outra fonte que utiliza para explorar sua alma poética. O poema Quinto Elemento demonstra a visão da escritora e sua admiração pela dança.
Quinto Elemento
O dançarino é um poeta
Talvez, o maior de todos
Usa o corpo como caneta
Para escrever frases da alma
Na ponta dos pés, asas invisíveis
Alçando voos por tantos mundos
Passos marcados e rodopios
Faz de sua imagem um desafio
Chegando ao céu, sem sair do chão
Seu corpo transpira tons,
acordes, notas e mil refrãos
Declama versos metrificados
Com sapatilhas ou pés descalços
Canta com o corpo, riscando o chão,
Fazendo rimas movimentadas
Faz da sua arte um verbo à parte
Tem no espírito a poesia
O dançarino é um poeta
Se faz poemas nas melodias
Por tudo isso, a obra, de maneira muito instigante, permite ao leitor viajar por entrelinhas no universo rubro que autora personifica, dá vida, dá cor. Demonstra sua loucura poética, no bom sentido da palavra, como se observa no poema, o qual recebe exatamente esse nome.
Loucura Poética
Possuo uma loucura antiga
Cada vez que leio o mesmo poema
encontro uma nova poesia
A obra é uma ótima indicação para quem se permite sentir a poesia, seja em versos ou na vida, afinal ela é necessária, ela salva. Ler Vermelhos InVersos é permitir-se a conhecer o mais profundo do sentir.
Rivane Oliveira- Formada em Letras pela Universidade Estadual do Piauí- UESPI-, professora de Língua Portuguesa e Redação, pós-graduada em Libras e Educação Especial