Nunca foi fácil partir
mas se me parto, quando fico
é injusto permanecer
O trem que leva às vezes enguiça
por mau uso ou por preguiça
de polir as engrenagens
Não é impróprio voltar atrás
quando é preciso chegar
está além do sentir
está além de coragem
Amar é mesmo viagem
com estações e porvir
Nunca foi fácil partir
mas precisa partir de mim
a vontade de voar
Na mala, que ainda nos une
deixar-te-ei alguns versos
e entre os poemas perversos
algumas gotas de amor
Lembranças dos beijos quentes
e a acolhida do abraço
Fica também um templo
de oratória e palavras
as desculpas mais sagradas
e a culpa estabelecida
Na outra mala que levo
carrego os mesmos desejos
memórias e textos molhados
rasurados de poesia
Nunca foi fácil partir
pois toda partida é fria
porém não posso ficar
no manto do amanhecer
que insiste em não ver o dia
Parto porque me parto
na utopia dos fatos
na distopia dos atos
Val Mello
Nenhum comentário:
Postar um comentário