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terça-feira, 26 de outubro de 2021

Resenha sobre o livro Vermelhos InVersos, feita pelo professor Luiz Otávio Oliani,







VERSOS QUENTES, VERMELHIDÃO EM VAL MELLO, POESIA DO FOGO

por Luiz Otávio Oliani

"somos todas Matrioskas
Dentro de mim cabe o mundo
enquanto o mundo me esvazia"

Val Mello, p.58



Na orelha ao livro "Vermelhos inVersos", de Val Mello, Ventura Editores, 2020, a professora Gleide Kaline Araujo Costa Rodrigues acentuou que: "Val Mello traz toda sua intensidade nessa obra, a valorização da mulher e o elo entre a humanidade." Trata-se de uma poesia com "textos (...) curtos, porém ricos em reflexões profundas". Eis a entrada para a compreensão deste livro, que tem como metáfora a cor vermelha, a cor da paixão, do batom e que assinala a busca pelo amor. Não é à toa que a capa do livro, com registro fotográfico de Eduardo Reis, retrata a poeta, de batom vermelho, e de cabeça para baixo, em um jogo de espelhos.

A apresentação de Julyano Ode, (um multitartista, capitão de compense, que vivenciou parte da adolescência com a autora quando no Piauí) traz uma visão rica e acolhedora de Valdene, cujas origens no Bairro Morro Vermelho, na cidade Capitão de Campos, no Piauí, não foram esquecidas pela autora. Exalta Julyano, na página 8:



"Val Mello não treme, não torce o pé, faz da vida uma passarela em que precisa ser vista e mostra ao mundo as possibilidades de encontrar conforto saboreando repouso sobre os saltos, nem que seja só por hoje, tratando as rotinas e as fomes da vida como processo de aprendizado e libertação constante fazendo saciar a fone do espírito.”



Já o prefácio é assinado por Jorge Ventura (escritor, ator, jornalista e publicitário, além de atual Presidente da APPERJ e membro do grupo Poesia Simplesmente) e intitulado de "Quando a ruiveza da pérola se torna o vermelho inverso de toda mulher". O título em voga já revela a imersão na tônica de Val Mello, isto porque Jorge Ventura mergulha na poesia da autora, ao exaltar a consciência feminina de Val Mello, com o tingimento dos versos íntimos de vermelho. Eis uma poeta "De língua afiada, mas sem ser panfletária", porque "hasteia suas bandeiras feminista e política, mantendo-se corrente com suas ideias, ideais e postura",p.16, já que "Pelos sete continentes / Somos todas Matrioskas / (...) Rotulada todo dia, / seja eu a Madalena / ou até mesmo a Virgem Maria...”

Jorge Ventura acentua que não há uma preocupação com as técnicas da versificação, mas isto não invalida a obra, que é transgressora por si só. Por outro lado, há todo trato estético com a linguagem.

Metafórica e cheia de alegorias, assim são os poemas de Val Mello. Em "Relógio da eternidade:", p.121, “O tempo é lépido / O tempo se veste de nudez / E construir o eterno / é só um segundo talvez/ Fração de minuto é tesouro / Contato com o que é contigo / Quarenta e três minutos vividos / É um eterno sagrado".

Ventura comenta sobre pontos centrais na obra em voga: "vínculo com a angústia da contemporaneidade e suas injustiças sociais, a dor universal dos amantes e seis lamentos viscerais", p.18, que são perceptíveis aos leitores.

Se, em "Nudes da alma", p.37, há o sofrimento transmutado em arte, porque "Já que vida é poesia / feridas valerão a pena / A dor que explode hoje / amanhã será um poema"; já em "Minh'arte", p.36, cinco versos minimalistas traduzem: "Dose / dupla, / pintura / Necessariamente / nessa / ordem", Val Mello se desnuda. É impossível viver longe da arte. Aqui, a pintura sobressai como um fogo, vulcão em erupção.

O amor pulsa em "Santuário", p. 45 quando há um trabalho linguístico na seleção vocabular que compõe o poema: "corpo"," mãos"," boca","cabelo","pele", tudo para mostrar que "Há um santuário de beleza / às vistas do apaixonado" e que "A musa em primeiro plano / é cultuada como deusa / pelo enamorado humano."

A crítica social e a inversão de valores estão presentes em "Comodidade", p.41, no qual se lê: "Sem consciência dos fatos / o homem traça seu certo / dentro do que lhe é cômodo", ao revelar como os indivíduos se fecham em bolhas individuais e ignoram o coletivo, com a criação de verdades pessoais inquestionáveis.

No que se refere à estrutura do livro, a obra é dividida em vários momentos: "Eu","Elas", "Eles", "Elos", "Lutas" e "Tempo", o que revela a intenção autoral de mergulhar nestes ideários temáticos.

Não foi em vão a presença do poema "Batom", na abertura da sessão “Eu”, como o primeiro poema do livro, p.25, assim como outros textos que reforçam a condição feminina como "Repouso sobre Saltos",p.57; "Fêmea",p.49; "Damas",p.58, entre outros. "Lençóis", p. 77, é um poema marcante, ao atravessar a solidão de eu lírico entre o vazio de uma cama não preenchida, ao descobrir que "estamos do lado de dentro / em um mesmo pensamento,/ ligados pela eternidade."

O poema "Vermelhos, p. 46, encerra esta primeira parte do livro, uma vez que o eu lírico reforça a paixão por essa cor. Diz: "Entregue à quentura dos vermelhos que me definem,/não insisto em apagar as labaredas da minh'alma //(...) mesmo quando as palavras se rendem ao silêncio.”

Em "Comodidade", p. 41, Val Mello não ignora a realidade social e questiona a acomodação dos indivíduos frente ao caos, porque "Sem consciência dos fatos / o homem traça seu certo / dentro do que lhe é cômodo. A poeta não fecha, portanto, os olhos para o externo.

Em "Ventos", p.53, um eu lírico forte e pujante desponta, a fim de revelar que "Não quero solidão com vista para o mar / Eu não nasci para ser ilha / Eu nasci pra ser vento", porque, só dessa forma, a liberdade pode ser alcançada, a liberdade de ser mulher e feliz, longe de rótulos.

O leitor está diante, então, de uma poesia que se aproxima muito da estrutura prosaica, como se lê no "Recado", p.63: "O que fere tua existência / não é o receio da minha loucura /nem o histerismo nos meus versos/ Mas sim o medo da resistência / que vai curar a consciência / da ignorância deste universo.” Interessante observar a forma gramatical dos versos, notadamente marcados pelo sujeito e predicado, na forma direta. Um exemplo está em "Elos celestiais",p.98, "O poeta é um anjo louco / que vive sem direção/ Que anda na contramão / e ninguém pode multar", marcado por bela metáfora inicial.

A cidade, com seus problemas, aparece em "Caixas de Concreto", p.92 e "Pink", p.93 enquanto "As peças não se encaixam / Vazios não se preenchem / O mundo está doente", é o que constatou o eu lírico em "Blocos",p.93.

Em "Delirios", p.99, fica evidente que "Os sonhos não envelhecem”, em alusiva demonstração de que é preciso agir na busca da própria felicidade.

E a crítica social aparece forte na penúltima parte do livro, "Lutas", e já no poema "Velada Alforria", p.107, percebe-se o olhar apurado sobre a escravidão no Brasil e as consequências históricas do processo, pois a "Lei Áurea não libertou,/ apenas soltou corrente,//", já que "O Pais ainda não tem povo livre / Ainda respira feudo." O texto "Desmeritocracia", p.109, é outro exemplo que se encaixa nesta temática.

A última parte do livro trata sobre a temática do Tempo. O primeiro texto da seção "Passageiros Apressados", p.115, relata a efemeridade dos dias, com as pessoas correndo o tempo todo, com a justificativa da falta de tempo, sempre, pois "Nunca paramos / Respiramos apressadamente / Não beijamos filhos o quanto gostaríamos,/ nem os pais como deveríamos" , já que "sempre avançamos o dia sinal / do senhor chamado tempo."

"Ampulheta", p.117, retrata, em bela prosopopeia: "o tempo vira um mártir / dos relativos minutos,/ teimosos a estacionar".

"Relógio da Eternidade" traz a epígrafe de Lewis Caroll. A imagem ao lado do poema mostra um coelho atormentado com a efemeridade do tempo, porque "O tempo é lépido/. O tempo se veste da nudez / E construir o eterno / é só um segundo talvez", ao tratar sobre os paradoxos de "Alice no País das Maravilhas".

Lindo é o último poema que homenageia Luna Magalhães, poeta e ativista cultural do Rio de Janeiro. O título do poema é o nome do evento coordenado por Luna, isto é, "Versos e Vozes" que aparece na página127.

E, para concluir, quem teve a oportunidade de assistir às apresentações performáticas de Val Mello, antes da pandemia provocada pelo coronavírus, (Covid-19), em diversos eventos literários no Rio de Janeiro, onde mora, ficou evidente a paixão da poeta pela música, pela dança e pelo desenho. Não seria diferente, portanto, que nesta obra impressa, não houvesse o bailado do corpo e o movimento orquestrado ante um som poético, tudo devidamente ilustrado com desenhos lindos da autora.

Em "Me fiz Dança", p.32, é possível imaginar o movimento das palavras em volta de Val Mello, porque "Danças são poemas / que libertam o corpo do corpo, / Escrevendo com movimentos / coreografias da vida", em bela metáfora.

E, se "O dançarino é um poeta / Talvez, o maior de todos / Usa o corpo como caneta /para escrever frases da alma", fica evidente em "Quinto Elemento", p. 31, o quanto este metapoema exalta a movimentação da arte. Além desta metáfora, a prosopopeia "Seu corpo transpira tons, / acordes, notas mil e refrões" expõe os passos de quem escreve dançando com as palavras.

Aos poucos, Val Mello deixa de ser conhecida apenas no blog pessoal, nas redes sociais e nos palcos dos eventos poético, pois, como acentuou Ventura, agora, com este livro há o coroamento de uma obra que se faz completa.



*LUIZ OTÁVIO OLIANI cursou Letras e Direto. É professor e escritor. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso, representou o Brasil no IV EPLP em Lisboa. Participa de mais de 200 livros coletivos. Consta em mais de 600 jornais, revistas e alternativos. Recebeu mais de 100 prêmios. Teve textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês e chinês. Publicou 14 livros: 10 de poemas, 3 peças de teatro e o livro de contos “A vida sem disfarces”, Prêmio Nelson Rodrigues, UBE/RJ, 2019. Recebeu o título de “Melhor Autor Apperjiano 2019” pelo conjunto da obra.Em 2020, teve poema publicado nos Estados Unidos da América, na Carolina do Norte, em Chapel Hill, na coletânea internacional “VII Heron Clan”, a convite de Todd Irwin Marshall.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Vídeo - A VIOLETA 19- UMA TRANSMUTAÇÃO PANDÊMICA- Val Mello e Jorge Ventura

 

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Leia o poema na íntegra:




E-Book A Violeta 19 - Uma Transmutação Pandêmica


Inspirados em uma das lendas da violeta, que começa a eclodir ao final do rigoroso inverno para florir irradiante na primavera, Val Mello e Jorge Ventura costuram seus poemas de modo a exprimir o canto de amor sobre a saudade, de acalanto sobre a angústia, de equilíbrio sobre o desespero. A obra A Violeta Dezenove - Uma Transmutação Pandêmica expõe os sentimentos de tantos humanos no planeta Terra, as dores da pandemia e a alegria suprimida pela ausência de parentes, amigos, vizinhos e conhecidos que se foram, sobrando aos demais a esperança de um novo florescer. É a mensagem de otimismo, escrita a quatro mãos, sob a força transformadora da poesia.


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segue abaixo o link:


A VIOLETA 19 UMA TRANSMUTAÇÃO PANDÊMICA


ESCRITORES :
Val Mello e Jorge Ventura